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Escrito por: Anderson Freitas
Crédito de imagem: Unsplash
Publicado: 30/08/2021

Ergonomia é sinônimo de conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente, mas como tudo isso se relaciona com o motociclismo, em particular, com uma pilotagem em dias de frio e chuva.

Muitos motociclistas, desconhecem a forma correta de se protegerem durante uma pilotagem em dias de frio, com ou sem chuvas, e digo isso, ao pensar em motociclistas que fazem uso das duas rodas nas suas mais diversas possibilidades, desde o uso da moto para o trabalho, assim como, enquanto prática de lazer, turismo e/ou hobby.

Ao mesmo tempo, existem poucas matérias que enfatizam uma orientação objetiva ao motociclista, quanto a composição de suas vestimentas para uma pilotagem segura e confortável em dias de frio e chuva.

Por outro lado, o aprendizado aqui compartilhado, é uma compilação de um estudo exploratório que realizei, após minha esposa e eu, passarmos por uma crise de quase hipotermia, quando fomos surpreendidos, por uma mudança repentina do clima. Então, aqui está a primeira lição, vivida, sofrida e compartilhada com você:

Não saia de casa ou do seu ponto de apoio, sem antes conhecer as condições climáticas para o(s) dia(s) de sua viagem, bem como, as variações do tempo por entre o trajeto a ser percorrido.

Adentrando ao tema, conversei com vários especialistas que realizam atividades em condições ambientais extremas, e neste caso, baixas temperaturas e chuva. Além de conversar com motociclistas experientes, foi conversando com atletas praticantes de esportes de inverno, esportes marítimos e esportes radicais e de aventura, que compreendi os princípios para uma composição de roupas para uma pilotagem em dias de frio, com ou sem chuva.

Compreendi que a estruturação da vestimenta em condições de baixa temperatura, acrescido ou não de chuva, precisava ser composta por camadas de proteção e cada qual, com sua respectiva eficiência.

Primeira camada

A primeira camada de proteção de uma pilotagem de moto em dias de frio/chuva é constituída por aquilo que comumente conhecemos por segunda pele.

Esse tipo de roupa – blusa, calça, meias e luvas – tem o objetivo de retirar o suor do corpo. Ao contrário do que muitos pensam, durante o frio o corpo também transpira. A produção de suor é um mecanismo fisiológico de termo-regulamentação, que nessas condições – baixa temperatura – é produzido devido os tremores musculares que visam produzir um “calor fisiológico”, além de um suor aumentado devido a própria eficiência de aquecimento/proteção das demais camadas.

Roupas do tipo segunda pele, tem o objetivo de absorver o suor, mantendo a pele sempre seca, isso não quer dizer aquecida. Detalhe ainda, é lembrar de trocar essa camada – segunda pele – pois ao longo da viagem ela pode se encharcar com o próprio suor, principalmente quando voltamos nossa atenção aos pés, que transpiram em média, 17 vezes mais, que nossas axilas.

Segunda camada

Não deve ser confundida com a segunda pele. A segunda camada, essa sim, tem o objetivo de aquecer o corpo.

Geralmente, essa camada é formada por uma roupa – blusa, calca, meias e luvas – com um certo percentual de lã e deve ser medida conforme a intensidade do frio, por isso, é importante acompanhar a previsão climática da região para onde deseja viajar. Se sua viagem é para as serras gaúchas e na época a previsão é uma temperatura abaixo ou de quase 0 °C (zero graus Celsius), saiba que precisará dar uma atenção especial à segunda camada e buscar escolher uma roupa com um maior percentual de lã.

Um último detalhe a esta camada, é uma ressalva ao uso do forro de algumas jaquetas. Alguns fabricantes de jaquetas descrevem seus produtos, como sendo térmicos, apontando para a existência de um forro interno. Não é o caso aqui, de apontar o quão eficiente são, mas nunca confie que só isso é o suficiente para seu aquecimento e conforto térmico.

Terceira camada

Não mais ou menos importante, a terceira camada é conhecida como corta vento.

Agora sim, entra as jaquetas e as parkas, sem esquecer das calças de motociclismo. Todo este conjunto é feita de uma material resistente, que além de proteger o piloto durante uma eventual queda e choques contra objetos e insetos, por exemplo, também tem a finalidade de proteger o motociclista da ação do vento.

Uma boa jaqueta e calça, precisam oferecer resistência ao vento. Um detalhe a ser destacado, é a tecnologia e a usabilidade atribuída a cada uma delas. Assim, se sua intenção é viajar de moto, uma jaqueta que compõe o seu vestuário convencional para dias de frio, bem como, aquela calça jeans básica, não irão lhe proteger do frio durante uma viagem de moto.

Da mesma forma, é preciso saber que no próprio motociclismo, existem diversos tipos de jaquetas e calças, como aquelas pensadas para uma pilotagem em alta velocidade, assim como, jaquetas/parkas e calças para uma pilotagem em dias de calor e outras para dias de frio.

Entenda que jaquetas, calças ou macacões para uso em uma pilotagem de alta velocidade, geralmente são constituídas de couro ou material sintético de alta tecnologia, onde o principal objetivo é proteger o corpo do piloto contra o impacto com objetos e/ou insetos, bem como, atritos com uma superfície, evitando abrasões da pele com o asfalto/cimento, em uma eventual queda.

Já no caso de uma jaqueta/parka e calças para uma pilotagem de lazer, turismo e/ou hobby, a tecnologia associada a estes produtos é formulada a partir da resistência que ela oferece ao vento: quanto mais vento penetrar por entre o tecido, menor será sua eficiência para lhe proteger em um momento de frio.

Agora sua dúvida pode ser: “qual jaqueta/parka e calça escolher, é necessário ter duas de cada, uma para pilotar no verão, outra no inverno?”

O que digo para você, é que depende do produto e de marcas.

Alguns fabricantes descrevem seus produtos como ideal para o frio, ao mesmo tempo, apresentam formas de regulação para a passagem de ar, com a aplicação de entradas e saída de ar, que podem ser abertas e/ou fechadas, bem como, a remoção de forros interno.

Faz-se lembrar ainda, de outro detalhe importante, que é a conservação de sua jaqueta e calça de motociclista, o que logo digo, jamais lave-as em máquinas ou tranquinhos de lavar, nem mesmo utilize secadoras.

Uma das tecnologias associadas a resistência ao vento é uma espécie de impermeabilização por um tipo de cera por entre as tramas dos fios do tecido. Caso necessário fazer uma limpeza, prefira fazer a seco, sem o uso de produtos adstringentes e/ou desengordurante.

Entre camadas

Essa é uma dica particular, pois atribui um ponto estético, principalmente, quando remover ou abrir a jaqueta/parka.

Chamo de entre camadas, a decisão de usar uma camiseta de seu gosto, sobre a blusa de lã, mas atenção com o exagero, até porque, pode representar um outro desconforto, dependendo do material.

Outra forma, é ter essa camiseta guardada no bauleto/alforge (mala) da moto, para quando estacionar e retirar a jaqueta/parka, é só pegar e vestir.

No caso, também utilizo uma calça jeans sobre a calça de lã, isso porque, quando realizo uma parada mais longa, para ter uma liberdade de movimento, retiro a calça de motociclista (terceira camada).

Quarta camada

A última camada, essa sim, que irá proteger as demais camadas do contato com a água da chuva.

Está é a camada de resistência a água, e de forma objetiva, refiro-me a capa de chuva, uma vestimenta que jamais deveria ser pensada enquanto uma roupa de proteção ao frio ou substituída por jaquetas ou calças para motociclistas, apontadas pelo fabricante, como sendo impermeáveis, até porque, isso não existe!

Não é pelo fato que um produto apresente um tipo de resistência a água, que ele seja 100% impermeável.

Voltando a questão da capa de chuva, jamais pense nela, como se fosse uma roupa para o frio, pelo contrário, uma capa de chuva utilizada no frio, sem as devidas e adequadas composição das camadas anteriores, só irá acelerar o seu quadro de frio e consequentemente levá-lo(a) à hipotermia. Saiba que o material que compõe a capa de chuva, geralmente emborrachado, absorve a temperatura ambiente, isso quer dizer que, em dias de frio ela se torna gelada por si só.

Outro detalhe sobre a capa de chuva, é escolher um produto ideal para o uso em motos. Algo que você precisa lembrar, é que ao andar de moto na chuva, o spray de água é aumentando pela relação entre o volume de chuva e a velocidade de deslocamento da moto e dos ventos. Desta forma, ao comprar uma capa de chuva, busque saber para qual condição ela foi projeta. Uma capa de chuva projeta para uma pessoa correr na rua, ou para assistir um jogo de futebol na arquibancada, em um dia de chuva, nenhuma proteção irá lhe oferecer, ao pilotar sua moto na chuva.

Por fim, nada adianta ter uma capa de chuva e não fazer a sua vedação correta. Cada marca de capa de chuva possui dobras de vedação que devem ser aplicadas de forma correta, é desta forma que o fabricante garante uma maior resistência à penetração da água.

ALERTA: jamais utilize capas de chuva com touca, indiferente do uso, colocada na cabeça ou não. O vaco criado na touca devido o vento, pode provocar estrangulamento do pescoço, diminuindo a fluxo de sangue e oxigênio para o cérebro, levando aquele que estiver usando – piloto e/ou passageiro – a sonolência e ao possível desmaio.

Mãos e Pés

Saiba que, a sensação de frio começa nas extremidade em direção à região central do corpo, isso quer dizer que, às mãos e os pés são as partes que primeiro sofrem a reação ao frio.

O seu tronco pode até estar aquecido, mas se mãos e pés começarem a gelar, rapidamente a sensação de frio, irá tomar o seu corpo.

A proteção dessas regiões devem seguir o mesmo princípio das quatro camadas. No caso das mãos, a alternativa em dias de chuvas é utilizar luvas que tenham maior resistência a água, já que não existem capas de chuvas para as mãos, por outro lado, para os pés existem polainas/galochas de proteção à chuva.

Polainas e/ou galochas para a chuva, após serem vestidas por cima da bota, devem ser colocadas para dentro da calça da capa de chuva. Jamais deixe-as por cima, caso contrário vão encher de água, molhar sua bota e seus pés.

Voltada a atenção para as mãos, os protetores de mãos acoplados no guidom, pode diminuir o contato com o vento e chuva, bem como a bolha frontal em relação ao tronco. De qualquer forma, é imprescindível levar pares de luvas extras, para serem trocadas ao longo da viagem.

Um último retoque aos pés, é lembrar de trocar as meias, lembre sempre que em médio, os pés transpiram 17 vezes mais, que as axilas. É um pequeno detalhe, que pode fazer toda a diferença, mesmo que você tenha protegido sua bota do contato com a água.

Cabeça e Pescoço

Capacete fechado, isso sem dúvida. Um parênteses aqui, capacetes abertos não proporcionam uma eficiência significativa à proteção da cabeça. Se o seu problema é com o fato do capacete ser fechado, uma alternativa são os capacetes articuláveis ou escamoteáveis, que de forma estratégicas – parado, estacionado ou em baixa velocidade – podem ser abertos.

De volta a nossa temática, para a proteção da cabeça em dias de frio e chuva, utilize uma bala clava térmica ou uma touca de lã, do tipo feltro. Mas atenção, cuidado com a espessura do material, pois com o ajuste do capacete, pode pressionar a cabeça e gerar desconforto.

Em relação ao pescoço, pessoalmente tenho utilizado um cachecol em dias de frio, vestido antes de colocar a terceira camada, guardando completamente suas pontas para dentro da jaqueta.

Outra opção, são blusas de lã (segunda camada) de gola alta, porém saiba que caso molhe, terá que trocar toda a blusa.

Ajuste final

Ao adquirir blusas, calças, meias e luvas para compor todas essas camadas, a dica que lhe ofereço é que não compre sem experimentar tudo junto. Mesmo que faça sua aquisição em lojas separas: leve todas as peças e prove-as todas juntas.

Conheci pessoas que compraram suas roupas separadamente, sem provar antes, e, quando precisou compor as camadas para se proteger do frio e da chuva, a roupa ficou apertada. Lembro a você, que a composição das camadas é uma sobreposição de roupas.

Por mais limitante que fique, pelo volume de roupa, certifique-se de que movimento importantes sejam mantidos, como aqueles de “girar a cabeça”, subir e descer da moto, e ainda, atenção quando na posição de pilotagem (posição sentada) para que a calça não aperte na região da virilha de modo a constituir um torniquete, bem como a jaqueta/parka na região das axilas.

Do mais, uma ótima pilotagem, uma boa viagem e não esqueça das fotos!

Sobre o autor

Anderson Freitas
Graduado em Educação Física (CREF 043103-G/SP). Mestre em ciências pelo Hospital de Câncer de Barretos (Hospital de Amor). Especialista em Ergonomia (Senac-SP – campus Ribeirão Preto). Professor convidado do curso de Pós-graduação em Ginástica Laboral e Ergonomia (FMU). Profissional Delegado do Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo (CREF4/SP). Diretor Administrativo da Associação Brasileira de Ginástica Laboral

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